Nos últimos anos a inflação vem corroendo muito o poder de compra das famílias. Para se ter uma ideia, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país, encerrou 2021 a 10,06%, maior patamar desde 2015. Gasolina, alimentos, energia elétrica e gastos com saúde foram alguns dos itens que mais pesaram no bolso do consumidor.
Para conter a escalada dos preços, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), utilizou um remédio igualmente amargo, velho conhecido dos brasileiros: o aumento da taxa Selic, que agora está em 10,75%, maior patamar desde junho de 2017. Com isso, o crédito fica mais caro e assim, toda a cadeia produtiva pode sofrer.
Nesse cenário, é quase impossível que os condomínios não sejam impactados. A carestia faz com que as contas básicas também aumentem e isso acaba refletindo no valor da taxa mensal. Se o prédio tem um alto consumo de energia, é evidente que isso vai se refletir na conta cobrada pela Cemig, ainda mais em tempos de bandeira vermelha devido à escassez hídrica. Da mesma forma, a alta dos alimentos também leva ao aumento no custo da cesta básica que é paga aos funcionários e por aí vai.
O que fazer então, já que diante do alto índice de desemprego e achatamento da renda, falar em aumento da taxa condominial é quase um tabu? Para o advogado especializado em direito condominial e presidente do Sindicon MG, Carlos Eduardo Alves de Queiroz, a primeira iniciativa é economizar. “O síndico deve pegar os balancetes mais recentes e, junto com o conselho fiscal, tentar encontrar onde há brechas para economizar. Normalmente, em relação à conta de luz, recomendamos a troca das lâmpadas para opções mais econômicas, com sensores de presença sempre em bom funcionamento e, principalmente, a verificação se não há fuga de energia”, diz ele.
Também é interessante orientar condôminos e funcionários para fazerem o uso racional da água, investir em alternativas de reaproveitamento e eliminar o uso da mangueira para lavagem de áreas comuns e passeios. Já se o gasto maior for com o pessoal, o ideal é encontrar uma alternativa junto à administradora para baratear esse custo.
Mas e se só economizar não estiver dando certo? – Neste caso, o melhor a fazer é comunicar a situação das contas aos condôminos e explicar que é necessário reajustar a taxa. “Essa é uma medida que sempre vai sofrer resistência, porque ninguém quer ter gasto a mais, principalmente em época de crise. Entretanto, é preciso ser tomada. Costumo dizer que o bom síndico não é o que nunca reajusta da taxa condominial, mas sim, aquele que mantém as contas no azul”, define Carlos Eduardo.
Outra orientação importante neste momento é não deixar de fazer serviços essenciais por medo do preço. Obras de manutenção, especialmente se o edifício apresenta problemas em sua estrutura, devem ser prioridade, assim como o bom funcionamento dos elevadores, dos portões e do sistema de segurança. “Rotineiramente, temos visto casos de prédios desabando, elevadores caindo e condomínios assaltados porque esses itens foram negligenciados. É responsabilidade do síndico mantê-los em dia, para que não venha a ser responsabilizado numa eventualidade”, conclui o presidente.